Esta é uma obra que transcende a funcionalidade de uma mesa de centro e se apresenta como um manifesto estético e filosófico.
Criada a partir de uma fatia grossa de tronco de eucalipto e pés de ferro, ambos materiais reaproveitados, esta mesa combina a rusticidade da natureza com a força da industrialização, evocando um diálogo harmonioso entre o orgânico e o construído.
O tampo de eucalipto, com suas marcas do tempo e da vida, apresentava uma rachadura que ameaçava sua integridade. Em um gesto que une a tradição artesanal à inovação, a rachadura foi reparada com cortes tipo "gravatinha", preenchidos com liga de chumbo derretido, criando um padrão visual que remete a figura de um machado duplo. Este método de reparo, que não esconde mas celebra a imperfeição, transforma uma falha em uma característica de destaque, simbolizando a resiliência e a união.
A estética da Mesa da Justiça é profundamente simbólica. O machado duplo é um signo de força e justiça dentro da cultura afro-brasileira originária da África Ocidental, especialmente de origem Iorubá. Sendo, portanto, o mote para a escolha do nome da mesa, que foi inspirada em uma história ancestral, contada pela oralidade de muitas formas para expressar a força e a sabedoria de um líder.
Além disso, o tronco natural preso por baixo do ferro simboliza a ideia de que a natureza é essencial para o sustento do progresso, e não o contrário. Essa escolha subverte a concepção de que o construído tem mais valor do que o natural, ressaltando que o equilíbrio entre ambos é fundamental.
No contexto filosófico, a mesa representa mais do que um objeto utilitário; ela é um reflexo dos valores de sustentabilidade, justiça e integridade. O uso de materiais reaproveitados é um testemunho do respeito pela natureza e pela história de cada elemento que compõe a peça. A reparação visível da rachadura é uma afirmação de que a verdadeira beleza reside na honestidade e na aceitação das imperfeições.
Ao contemplar a Mesa da Justiça, somos convidados a refletir sobre a harmonia entre o passado e o presente, o natural e o criado pelo homem, e a importância de encontrar equilíbrio e justiça em nossas próprias vidas.
Esta mesa não é apenas um móvel, mas uma narrativa esculpida em madeira e ferro, uma peça que carrega em si uma história de transformação e resiliência.
A Mesa da Justiça convida o observador a perceber a profundidade de sua mensagem e a apreciar a arte da recuperação e da reinvenção. É uma peça que fala de força e de cura, um verdadeiro testemunho de que, através da arte e da habilidade, podemos transformar o ordinário em extraordinário.
Por Acervo E
Concepção: Stella Tuttolomondo
Criação e execução: Emerson Borges
Feita em Maio de 2024.
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